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O ontem que grita para o hoje

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Tiago Bubniak

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Não é arriscado – ou inapropriado – dizer que um dos grandes feitos de ‘12 Anos de Escravidão’, do inglês Steve McQueen, não são os enquadramentos bem cuidados, as várias cenas mergulhadas em silêncio (solicitando reflexão mais profunda sobre o que acabou de ser mostrado) ou mesmo a entrega dos atores a suas interpretações. Uma das grandes virtudes do vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2014 é convidar quem o assiste a (re)pensar sobre as barbáries que a humanidade ainda é capaz de fazer hoje. Sim, hoje. É bom frisar isso porque a história dirigida por McQueen se passa pelos idos de 1841. Baseada em fatos reais, ela foi retirada das memórias de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), músico negro livre sequestrado e vendido como escravo.

“Seria muito tarde”, parece dizer ‘12 Anos de Escravidão’, “deixar para corrigir erros amanhã e usar o retrato do processo de correção tardia para inspirar filmes, futuramente”. É gritante o contraste entre a sensação de indignação e repúdio que a obra da produtora Plan B, de Brad Pitt , provoca no espectador de hoje e a naturalidade com a qual os personagens retratados na tela reagem aos absurdos praticados contra seus semelhantes, companheiros de destino. Ou de inferno.

O filme escancara personagens conformados com sua sina, extrema e profundamente entregues à situação que enfrentam. Essa resignação do escravo de ontem choca o cidadão de hoje. Sobretudo se é um espectador da sociedade ocidental, mergulhada no politicamente correto e tão inspirada nos ideiais de “liberdade, fraternidade e igualdade” (mesmo que essa tríade esteja mais próxima de um ideal a ser alcançado do que efetivamente uma realidade conquistada).

McQueen, que recentemente ganhou a simpatia da crítica com seu ‘Shame’ e o retrato de um homem viciado em sexo, agora conquista crítica e público com um filme intenso que provoca a pensar em que medida liberdade, fraternidade e igualdade fazem parte de nossos dias. Mesmo que a história exibida tenha como contexto uma sociedade de quase dois séculos atrás. É o ontem gritando (e muito alto!) para o hoje.

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